sábado, 14 de agosto de 2010

Moda-Arte: Pina por Ronaldo Fraga



(trecho do texto de Ricardo Oliveros, de 20 de janeiro de 2010)

Um desfile de Ronaldo Fraga é sempre muito específico. A última coisa que me importa são as roupas. Mesmo que elas estejam presentes lá, o estilista mineiro as usa como metáforas para mostrar um mundo particular.
Como você mesmo pode ver na entrevista, Ronaldo acabou não conhecendo o trabalho e o processo criativo da coreógrafa alemã Pina Bausch, mas como diz a música final de Caetano Veloso: “Eu queria fazer um canção para ela” como Fraga fez uma coleção para ela.
É um imaginário criativo. Pina está lá e não está. Certos elementos incônicos como as cadeiras, o bandoneon, a vontade de ir além da dança… É talvez neste último e derradeiro elemento da coreógrafa que temos o ponto de convergência entre ela e Ronaldo.
Ronaldo sempre tem esta vontade de ir além da moda. Moda para ele é um meio e não um fim. No meio do SPFW, para alguns ísto é quase uma heresia, para outros um oásis.
Ao mostrar as peças que não tem frente, nem costas, ou estão deslocadas, como as cabeças de Pina usadas pelos modelos, é sobre este deslocamento que estamos vendo a cada desfile. Ao mostrar que roupa não tem sexo e que isto não importa, ele está literalmente dando as costas para os grandes paradigmas da moda.



(matéria de Gustavo Mendicino, de 4 de março de 2010, no jornal Hoje em Dia, de BH)

Pina Bausch, Ronaldo Fraga e Hogenério. Hogenério, Ronaldo Fraga e Pina Bausch. Ronaldo Fraga, Pina Bausch e Hogenério. Não importa a escala, o ramo de atuação, nem a abrangência de sua influência, mas se trata de três vanguardistas no mundo das artes, e o melhor, que se ligam, diretamente.

Ronaldo Fraga é um grande admirador de Pina Bausch. Escolheu a frase dela: “Não me importa o movimento das pessoas, e sim o que movimenta as pessoas” para ser uma de suas fontes inspiradoras.

Nesse caminho, o estilista mineiro, que não se considera estilista, e sim um desenhista que faz o que a maioria das pessoas chama de moda, resolveu montar uma coleção de Inverno para este 2010 que tem Pina Bausch como “musa”. Foi um sucesso no São Paulo Fashion Week.

Pina Bausch, uma das maiores bailarinas e coreógrafas que já pisaram o planeta Terra, falecida em junho do ano passado, levava para os palcos histórias contundentes, expressivas, muitas vezes baseadas nas experiências de vida dos próprios bailarinos que compunham seu grupo ou nas cidades para onde levava suas peças. Ela era do tipo permeável, que praticava osmose com a arte, ou seja, sugava e exprimia. E para a arte, passar pela matéria de Bausch significava ainda mais refinamento e ao mesmo tempo, complexidade.

Para montar sua coleção em homenagem a Bausch, Ronaldo Fraga convidou alguns artistas plásticos mineiros para expressarem seu sentimento em relação à coreógrafa. Hogenério foi um destes que recebeu o convite. Enviou algumas imagens e teve uma selecionada pelo estilista para integrar sua coleção que seria (foi) apresentada no São Paulo Fashion Week.

Hogenério não tem no nome a expressão de um Ronaldo Fraga, hoje conhecido mundialmente, muito menos de Pina Bausch, mas pode se considerar tão artista como tais. Hogenério é um experimentador, um desafiador e enxerga a arte como o melhor e mais caro brinquedo que aprendeu a admirar e a manusear. E o melhor, a criar.

A tríade formada, com uma pirâmide no que diz respeito a sucesso, alcance, mas que em muitas das vezes se torna um plano, quando o assunto é arte.

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